Resenha Nacional: Clarice, A Última Araújo - Paulo Souza


Pode-se pensar em impossibilidades quando alguém se adianta a fazer um estilo de literatura que é formado com os encaixes aparentemente incompatíveis de gêneros literários, o fantasioso e a crítica social se unindo, mas García Márquez como desbravador demonstrou que se, mais cauteloso e minimalista seja um assunto mais ele, se contornará em destaque com a utilização o suporte do sonho e da fantasia.
Paulo Souza ao, colocar sua protagonista Clarice como um ser quase angelical e intocável, criou um espaço demasiadamente fértil para uma crítica social feroz trazida no âmbito do tragicômico, sendo assim existe de um lado o peso dos instintos e das desumanidades, que são desbravadas no mercado da prostituição mas, uma criança da idade de Clarice, uma ainda adolescente, tão pura e, tão etérea, escancara o fato de que, mesmo a brutalidade da sexualidade e da libido se enfraquecem perplexas diante da inocência de uma mulher-criança. 
A história é sutil e desenvolvida com parágrafos de construções objetivas que ao mesmo tempo que narram um enredo completamente construído, tangenciando uma densa semântica que explora um conteúdo crítico, o autor responsabiliza a “indústria do sexo como expressão do desdém humano, sendo causado pela cobiça”, como aponta o escritor e prefaciador Marcos Fabrício. Pertinente ao tema é a simbolização completa em torno do “corpo”, um receptáculo de sensações corpóreas e também, palco das expressão humanas, neste ritmo de interpretação, torna-se paradoxal, a percepção da mazela social chamada prostituição, pois é o corpo o lugar e meio de expressão das mais sinceras emoções humanas, mas é ele também coisificado como instrumento para a proliferação da violência. Skoob | Comprar: Site da Editora

Autor: Paulo Souza
Editora: Penalux
Páginas: 80
Nota: 5/5

Pensa o seguinte: uma família de mulheres com uma beleza dos anjos. Essa história pertence a Clarice, a última da sua família, que está cercada por histórias contadas para crianças dormir e todos da cidade fofocam que a família Araújo foi renegada pelos céus por cometer um dos maiores pecados ao dormir com um querubim. Essa cidade, chamada Novo Oriente, sofre com a maldição da seca e a população não tem a oportunidade de sentir uma gota de chuva há vários anos e culpam uma antepassada de Clarice por cometer o pecado de se deitar com o querubim prejudicando a todos. Mas esse relacionamento celestial ainda deixou outra herança além da seca e da beleza das Araújo: a loucura. Depois do ato entre a tataravó de Clarice e o querubim qualquer homem que dorme com uma Araújo fica louco.

Clarice cresceu sabendo da maldição de sua família e seu maior desejo é poder conhecer a chuva e em busca desse sonho a jovem inocente acaba sendo enganada por Joana Critério, cafetina popular na cidade cearense, ao levá-la para morar no bordel da capital. Clarice é uma jovem inexperiente e pura que vai descobrir novos caminhos e conhecimentos sobre o mundo, coisa que nenhuma Araújo tentou antes. 

A crítica social está presente no livro de forma sútil, então temos denúncias sobre prostituição infantil, corrupção e tráfico sexual, mas apresentado de forma leve através do realismo fantástico. A escrita do Paulo é fluída e rápida, com um toque poético e eu estava sentindo falta de ler algo assim.


Assim que saiu a divulgação da capa de Clarice fiquei intrigada com o significado dela, então quando comecei a ler e entender o contexto foi como uma flor se desabrochando. Ela combina perfeitamente com a história e traz um significado importante para a mesma. A diagramação é ótima com páginas amarelas e fonte confortável para leitura e sem erros ortográficos.

Eu gostei como o autor abordou diversos temas em sua narrativa, mas não deixou desalinhar em nenhum momento e todos os pontos foram bem explicados, mesmo com poucas páginas o leitor termina a leitura satisfeito com o fechamento da história, mas fica o desejo por mais páginas e mais Clarice.

Clarice é uma personagem tão singular e pura, que ao longo da narrativa eu queria protegê-la de todo mal. Não é uma história clichê, apesar de eu amar um bom clichê, mas é uma trama sobre como as nossas decisões podem afetar várias pessoas e como você é capaz de realizar seus sonhos. Nem sempre ao longo da vida colhemos algo bom, mas sempre é um aprendizado tudo que enfrentamos para seguirmos em frente e nos tornarmos uma pessoa melhor.

É muito bom encontrar uma escrita de qualidade que faz você embarcar na leitura e torcer desesperadamente pelos personagens. Clarice é uma obra prima e Paulo Souza tem um futuro brilhante na literatura, com certeza merece uma chance e, assim que você conhecer a escrita dele, não terá volta e vai desejar mais. Muito mais.

2 comentários:

  1. Ai meu Deus! Que resenha linda, obrigado pela leitura carinhosa do meu livro <3
    Espero que os leitores do blog sintam tudo isso que você sentiu!
    beijos

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  2. Sua resenha está perfeita, faz jus ao texto também adorei a leitura e apesar de não ser meu estilo de leitura preferido já espero para ler o próximo livro de Paulo Souza.

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